img_1640O mato cresce dentro e fora das centenas de carros estacionados há anos no pátio externo do barracão alugado pela Polícia Civil, na zona oeste de Londrina. Alguns veículos já foram encobertos pela vegetação e só são percebidos com um olhar mais atento. Muitos veículos ficam empilhados por conta da falta de espaço. Vidros quebrados, latarias danificadas e peças soltas fazem parte do cenário. A frota está sob sol e chuva à espera do desfecho de processos que tramitam na Justiça. Outro problema é a água empossada, condição ideal para proliferação do mosquito da dengue. Por diversas vezes, agentes de endemias alertaram sobre a existência de focos do Aedes aegypti no local.

A situação precária não é novidade. A pedido da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Paraná, a Polícia Civil iniciou um levantamento em Londrina para mapear a quantidade e a situação dos veículos armazenados e identificar os proprietários, além de criar um banco de dados com as informações de cada apreensão realizada nas últimas décadas. Desde o final do ano passado, aproximadamente 500 veículos foram cadastrados considerando registros de entradas e saídas do barracão da Polícia Civil. Desse total, cerca de 90 carros foram identificados com informações do boletim de ocorrência, com o número do inquérito e os nomes dos indiciados. Os veículos são fotografados e passam a fazer parte do banco de dados ainda em fase inicial.

Ao entrar no barracão, no entanto, o cenário é outro, não menos assustador. Centenas de carros, motos e até bicicletas estão cobertos pela poeira e teias de aranha. Quase todos sem identificação. Nos últimos anos, veículos encaminhados para o local receberam folhas sulfite fixadas com fita crepe. No papel, constam informações relacionadas a cada ocorrência policial.

O delegado chefe da 10ª Subdivisão Policial (SDP) de Londrina, Sebastião Ramos dos Santos Neto, destaca que as informações do banco de dados serão encaminhadas à Justiça para que os veículos possam ter uma destinação adequada. “Quatro funcionários estão empenhados nesse levantamento para agilizar a elaboração do banco de dados, mas são veículos apreendidos nas últimas décadas em Londrina e região. O desafio é grande”, afirma. Desde 2013, representantes da 10ª SDP encaminharam ofícios à Corregedoria da Polícia Civil e ao Tribunal de Justiça do Estado relatando o problema da superlotação do barracão. No final do ano passado, a Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Paraná solicitou o envio de uma planilha com o detalhamento de cada apreensão.

A falta de um sistema informatizado atrapalha até a realização de perícias. Dois profissionais que estiveram no barracão recentemente encontraram dificuldades para localizar alguns veículos. Na área interna, os carros e motos também dividem espaço com caça-níqueis, computadores, cigarros, móveis antigos, portas, espelhos e até um manequim. O espaço é monitorado por câmeras de segurança, além de uma coruja e um casal de urubus que entram pelas falhas existentes na estrutura do telhado.

QUEBRA-CABEÇAS
A cada apreensão de veículo, o funcionário responsável pela organização do barracão tem que fazer um “novo milagre”. Sem espaço e com carros empilhados do lado de fora, é preciso estabelecer uma estratégia para movimentar a frota e criar uma nova vaga. O guincho, a empilhadeira e outros equipamentos utilizados são terceirizados. Com a superlotação no local, a entrada de um novo carro pode demorar dias, assim como a retirada de um veículo liberado pela Justiça. Em alguns casos, a carcaça liberada está no terreno externo, nos fundos do barracão, já coberta pelo mato. Onde os centímetros fazem toda a diferença, caminhões e caminhonetes apreendidos também dificultam o trabalho. Os gastos com aluguel do barracão em Londrina e com os equipamentos terceirizados não foram revelados pela Polícia Civil. A assessoria também não soube informar a situação dos barracões nem a quantidade de veículos apreendidos em outros municípios do Paraná.

Fonte: Folha de Londrina