Falta de cobertura de sinal e pouco interesse de provedores impedem a implantação de cidades inteligentes no estado

Diretoras de escola que não podem responder um e-mail aos pais, postos de saúde sem conexão, localidades rurais que não contam com posto dos Correios porque não há sinal de internet. Essa realidade não é de um rincão escondido do país, mas do município de Contenda, que fica na Região Metropolitana de Curitiba, a 46 quilômetros da capital, e se repete por todo o Paraná. Falta de cobertura de sinal ou baixa qualidade, serviços caros e pouco interesse de provedores locais são alguns dos problemas que têm impedido a difusão da tecnologia e a implantação de cidades inteligentes.

Em Contenda há apenas uma operadora de telefonia, Oi, que não atende todo o território. Segundo o diretor de Tecnologia de Informação da prefeitura municipal, João Francisco da Silva, mesmo onde há sinal, é muito fraco. Para não deixar a cidade no apagão digital, a prefeitura adquiriu um link da Copel Telecom, de 30 megabits por segundo (Mbps), ao custo de R$ 4,2 mil ao mês. Para ter acesso ao wi-fi gratuito, o cidadão precisa adquirir uma antena digital.

“Mesmo assim nem todo o território está coberto no momento. Das oito antenas repetidoras do sinal gratuito, seis estão queimadas, serão consertadas logo, estamos em licitação”, diz Silva. Para manter o sistema funcionando, são cerca de R$ 10 mil mensais. “As pessoas reclamam, mas na verdade a própria prefeitura sente na pele o problema. Estamos negociando com parceiros para ver se conseguimos trazer uma operadora menor, já que as grandes não têm interesse em investir aqui”, acrescenta.

De acordo com os mais recentes dados do IBGE, referentes a 2014, 77 municípios do Paraná oferecem acesso ao wi-fi gratuito. O crescimento em relação a 2012 foi de apenas 35%, contra 85% em todo o Brasil. “O problema é muito básico ainda. Queremos explorar todas as potencialidades das cidades digitais, mas nem adianta falar disso se não há o essencial, que é a conectividade”, diz José Marinho, diretor da Rede Cidade Digital.

A falta de conexão é cada vez mais grave e prejudicial ao cidadão, pondera Marinho. “Antes costumávamos falar das pessoas excluídas digitalmente por falta de acesso. Mas hoje, na verdade, quem não tem internet fica excluída socialmente, em vários aspectos”, afirma.

A situação narrada em Contenda exemplifica bem isso: algumas escolas e postos de saúde, mesmo na área central, não tem acesso à internet, atrapalhando os projetos de ensino e o acompanhamento da ficha dos pacientes. “O bairro de Catanduvas do Sul não tem posto dos Correios por isso. As pessoas precisam vir até o centro para usar o serviço”, relata o diretor de TI do município.

Custos

Mesmo precário, o serviço prestado pela prefeitura de Contenda é um benefício raro no Paraná. “Todos nós gostaríamos de ter internet e fornecer gratuitamente, mas o cabeamento envolve uma logística e um custo com o qual muitas municipalidades não podem arcar”, diz o presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP), Marcel Micheletto. Segundo ele, os governos estadual e federal já abriram projetos na área para levar internet ao interior, mas as contrapartidas e manutenção do sistema sempre se mostram mais caros do que na proposta original. “No papel os projetos são ótimos, mas na prática não é bem assim.”

Organização quer fomentar uso de tecnologia

Para orientar os gestores públicos sobre os benefícios e dos caminhos para superar as barreiras para implantação tecnológica, a organização Rede Cidade Digital organiza encontros regionais e o Congresso Paranaense de Cidades Digitais, que terá sua terceira edição nos dias 19 e 20 de novembro, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

“A difusão do sinal de internet é fundamental para o desenvolvimento dos municípios. Um município que faz todo o esforço para criar um parque industrial, por exemplo, nem consegue atrair indústrias porque na área não tem sinal de internet”, diz José Marinho, diretor da Rede Cidade Digital.

A Rede Cidade Digital incentiva as prefeituras a criarem redes próprias, interligando as várias secretarias e órgãos. “Não estamos nem falando de internet gratuita, mas de possibilidades de o cidadão acompanhar a vida escolar dos filhos ou imprimir o boleto de IPTU”, explica Marinho.

Lei da Transparência

Segundo José Marinho, da Rede Cidade Digital, a Lei da Transparência, que obrigou todas as prefeituras a manter páginas de internet desde 2013, muitas vezes é inócua. “De que adianta ter toda a informação se o cidadão não tem meios de acompanhar?”, pondera.

Fonte: Gazeta do Povo